Estava deitado naquela cama fria, olhando para o teto e escutando uma música qualquer em uma estação qualquer. Definia sua vida como uma música desconhecida tocada em uma rádio igualmente desconhecida.
A enfermeira entrou, fez uma série de exames e logo saiu. Ele se perguntou se ela ao menos sabia seu nome depois de tanto tempo. Apostou consigo mesmo que não
Ele costumava viver como uma pessoa ansiosa por mudar a estação de rádio que tocava. Nunca estava satisfeito com sua vida, queria sempre pular aquela estação.
Foi em um dia chuvoso que descobriu que estava doente. Os médicos não sabiam o que era e por isso, ele deveria ficar no hospital.
Não tinha mais família e os poucos amigos que fazia eram perdidos nas bruscas mudanças de sua vida. Foi a partir dessa doença que o rádio entrou em sua vida. Não gostava de ler e o hospital não tinha recursos suficientes para comprar uma televisão. O aparelhinho estava sempre ligado. Inclusive nas raras vezes em que conseguia dormir.
Suas costas doíam quando o jornal começou. O noticiário tornara-se o único contato com o mundo exterior ao hospital. Assassinatos e assaltos e trânsito. Sempre as mesmas notícias antigas. Faltava-lhe coragem para desligar o rádio e por isso, mudou a estação.
Dias passavam e ele continuava a mudar de estação. A enfermeira chamou-o pelo nome para que pudesse trocar a roupa de cama e ele se assustou. A moça então começou a conversar com ele enquanto o ajudava a levantar. Perguntou se gostava da rádio que então tocava e ele não soube responder. Talvez tivesse esquecido como se fala.
A enfermeira contou-lhe, com lágrimas nos olhos, que quando era criança sua mãe só ouvia aquela rádio e, ao ouvir isso, ele caminhou até a rádio para mudar de estação. Ela o impediu dizendo que era a sua favorita e que a ajudava a superar muitas coisas, pois sentia sua mãe por perto. Ele a encarou por alguns minutos sem entender.
Ela sorriu quando terminou de arrumar a cama e o deixou com seus pensamentos. Como podia sofrer e mesmo assim, ficar feliz com isso? No dia seguinte perguntou isso a ela e obteve uma resposta que nunca esperaria ouvir. Escutou ela dizer que o sofrimento é necessário para uma vida plena e feliz e que a superação do mesmo só traz mais felicidade.
Ele entendeu que deveria ter vivido sua vida como ele mesmo e não através de tantas máscaras e sorriu para ela. A enfermeira, feliz, foi encontrar o médico e deu a notícia: o paciente estava curado, aprendeu a ser feliz com ele mesmo.
domingo, 12 de outubro de 2008
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